terça-feira, janeiro 26, 2010

Coleção tem limites

Apesar de ter gente que me considera entulheira, não, eu não sou. Não tenho dificuldade em jogar certas coisas fora, só em jogar aquilo que pode vir a ser útil; o mesmo se aplica a pessoas. Sendo assim, eu não sou muito de colecionar coisas, tenho apenas 3 coleções na minha vida, a mais magrinha é a de lápis decorados, daqueles com parangolés numa das pontas; a outra, bem numerosa, é de canecas, ela cresce com uma certa parcimônia, porque não há mais espaço dentro do armário da cozinha; e a última é de marcadores de livros, a única que me transforma numa gatuna voraz. Gosto de todos os tipos, desde aqueles mais comuns, impresso como material publicitário dos lançamentos das editoras até aqueles mais arrojados, magnéticos, com fotos de celebridades ou paisagens célebres. Às vezes entro em livrarias apenas para assaltar aquelas latinhas que ficam perto do caixa cheias deles, sem me importar com os olhares censuradores dos caixas, como quem pergunta se não vou comprar nada. Não, moça, não vou, eu vim aqui levar o que me interessa, na mão grande e não vou pagar nada por isso. Depois de tamanho ato de ousadia desses, eu só volto a ficar tranquila depois de cruzar porta afora da livraria andando com as minhas próprias pernas e ver que o sgurança da loja não me parou. E antes deste instante chegar, eu já fico fazendo todas as especulações possíveis na minha cabeça, como ser balançada pelos meus tornozelos de cabeça para baixo, enquanto o chão vai se cobrindo com as minhas preciosas tirinhas que dizem o que aquela editora acabou de lançar. Outra especulação muito comum também sou eu aparecendo no Jornal Nacional, algemada, gritando "eu sou uma prisioneira política! me mandem seus marcadores de livro!". Mas são apenas especulações, já falei.
Ontem, para a minha dupla alegria, estava eu em Ipanema, numa de suas livrarias mais famosas, comprando o meu tão aguardado, ansiado, procurado, namorado Neuromancer, de William Gibson. Para aqueles que adoram o universo cyberpunk de Matrix e Bladerunner, é uma excelente pedida. O livro foi relançado em uma edição comemorativa, com uma nova tradução, e ainda com dois contos inéditos do autor. Interessante como um livro de ficção científica, um estilo considerado menor na literatura, está na lista dos 100 melhores romances de língua inglesa segundo a revista Time.
Estava lá eu na fila do caixa, pululante, indo torná-lo meu definitivamente. Vi então aquela reluzente latinha deixada impune ao alcance de todos e fiquei ainda mais feliz, seria um dia de dupla alegria. Torcendo para que o cartão de crédito dos clientes à minha frente desse algum imprevisto, mesmo que pequeno, para que não ouvisse "próximo!" tão cedo, debrucei-me sobre o balcão e comecei a fazer a minha colheita. Vi um gracioso, onde se lia "EU ADORO LER!".
— Vem para a mamãe — disse a ele baixinho.
Juntei mais alguns na minha mão até que vi um onde se lia "Crepúsculo".
— Não, você fica.

Nenhum comentário: