quinta-feira, janeiro 21, 2010

Torture Week

Se eu só tivesse uma semana de vida, eu a gastaria em alguma féchion uíqui dessas por aí, porque assim pareceria que são mil anos e não apenas 7 dias. Eu lembro da época em que tinha TV, como alguns dos canais de gente-culta faziam parecer como se não houvesse mais nada acontecendo no globo, só um bando de gente anoréxica vestindo uns panos que ninguém entende o que quer dizer andando como se realmente fossem a algum lugar, e outros bons punhados de gente observando aquilo como se entendessem tudo, mal conseguindo disfarçar que só vão para lá para aparecer mesmo. Fora que se auto-denominam fechionistas, argh!
E aí, para encher a grade de programação, fazem cobertura ao vivo com os comentários de gente que se perde até para comprar uma calça jeans. De dentro do estúdio, você ouve as melhores coisas para enriquecer aquela cena:
— Eu gostei das cores.
— É, as cores.
— Também esse fuzô que ele poe por debaixo da roupa, acho legal, superusável nas ruas. (A mulher vê 15 modelos passando até achar alguma coisa que caiba nesta categoria, superusável, mesmo que se trate de um coque banana).
— É, esse fuzô.
Aí vai a moça feinha com um corte de cabelo que deu errado e pergunta para o estilista badaladão:
— Em que você se inspirou para fazer essa coleção?
Ao invés dele falar que foi indo à feira na rua com uma ressaca monstro e os óculos de grau sujos roubados da vó, ele diz:
— Ai (sempre começam com um "ai"), lembra daquela vez que a gente se viu em Amsterdã dois dias depois daquela suuuuper festa badaladaaaaça em Paris? (Eles também adooooram prolongar vogais).
— Ai, lembro, lóóógico. Festão!
— Pois é, aí eu encontrei com a Carminha Borges naquela mesma semana e ela tava voltando de umas compras que ela foi fazer para o chateau dela em Provence. Aí ela me pediu umas opiniões e eu lembrei daquilo que você me disse sobre tons mostarda. E aí foi só compor a coleção. — Aí ele manda essa mostrando uma modelo com um penacho na cabeça feito de penas de faisão roubadas da lixeira de um restaurante e arrematado com muito laquê, e toda vestido de preto.
Tem também os papos de modelo:
— Foi quando eu tava em Nova Iórque com a Fê, a Má, a Ju, a Ju Lopes, a Mã e a Tá.
E mostram um hall de mulheres cuja mais gorda veste manequim 36, que só porque a câmera passou nos bastidores, elas tentam esboçar um sorriso, mas a fome não deixa. E ainda fica a mesma mocinha de corte de cabelo que deu errado dizendo que a vara-pau é linda-de-morrer.
Eu não sei se sou eu mas para mim essas coisas não passam de papo de cocota no chá das cinco.
Mas se tudo isso fosse pouco, tem a opinião valiosíssima das pessoas das ruas, sobre algo bem crucial na nossa vida política-sócio-cultural-econômica, como por exemplo, lencinhos de bolinhas amarrados no pescoço. Todo mundo fala o que acha, crucifica, diz que deveriam ser queimados, até aparecer a Glorinha Khalil e falar que é válido, lindo, chic, e superusável. Então pronto, pode mandar fabricar os lencinhos de bolinha para amarrar no pescoço e cobrar R$ 70,00.
Sério, tem certeza de que são só 7 dias?

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